São Luís, 23 de julho.
Julho é mês da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência se reunir. Este ano, o maior evento científico da América Latina tem
como tema: Ciência, Cultura e saberes tradicionais para enfrentar a pobreza, e
é realizado na UFMA, a “Universidade que cresce com Inovação e Inclusão
Social”. Esta Universidade terá o privilégio de sediar importantíssimas
conferências e discussões científicas em sua imponente estrutura.
Até aí, tudo bem. Mas vamos falar sobre como
estava esta Universidade há dois meses, e de como estará daqui uma semana,
quando a festa estiver encerrada e chegar a hora de tirar a maquiagem. Hoje, a
face maquiada que vemos aqui é a face da Universidade brasileira, pois o mesmo
kit fora comprado para todas.
E o efeito desta superprodução? Lindos prédios de
portfólio, com salas enormes e abarrotadas de alunos, com tudo planejado nos
mínimos detalhes para atender a uma política educacional extremamente
arbitrária, enfiada goela abaixo para a maior parte da comunidade acadêmica.
Para atender a uma maior demanda de alunos basta uma pincelada e Voilà!
Aumenta-se o tamanho das salas para que, com poucos professores, mais alunos
tenham “oportunidade de acesso a educação pública e de qualidade”. É com essa
Inovação que a possibilidade de uma maior interação entre alunos e professores
vai por blush-abaixo, precarizando o ensino e sobrecarregando os profissionais
da educação (inviabilizando a manutenção/construção do tripé ensino, pesquisa e
extensão). Hoje, além das aulas e atividades acadêmicas, alunos e professores
se reúnem para mais uma tarefa; descobrir como fazer um uso proveitoso desses
verdadeiros elefantes brancos construídos dentro do campus.
Após alguns anos sobrevivendo em meio à lama e
poeira, lutando para assistir aulas dentro do canteiro de obras, tudo se
apressa para apresentar a belíssima UFMA que figurava nos portfólios para a 64°
reunião anual da SBPC. E o que esconde todo esse make up? A precarização da
educação brasileira, conseqüência de uma política de governo que não tem como
prioridade a educação, mas coisas como o pagamento de uma dívida pública
injusta e duvidosa. A bela fachada trazida com o kit REUNI é o lado bonito de
uma política educacional imposta e que não é amplamente discutida com a
comunidade acadêmica. É a consolidação de uma universidade injusta, que ao
invés de priorizar as demandas da sociedade como um todo, constrói muros como
os separam esta instituição dos bairros que a cercam. Os moradores do Sá Viana,
por exemplo, só adentram na UFMA para usufruírem conosco do péssimo serviço de
transporte público prestado nessa área. Enquanto isso, as políticas do governo
atual, mais uma vez apontam para a privatização da educação.
Todo esse descaso com a qualidade da educação
brasileira resulta hoje em uma greve forte e legítima, que abarca quase a
totalidade das IES. Como em ocasiões anteriores, professores, técnicos e
estudantes cerram fileiras contra a privatização e a precarização do ensino
público. Esse manifesto situa-se ao lado das idéias que pretendem demaquilar a
realidade e encará-la, ele é fruto de nosso descontentamento com a situação
atual da educação brasileira.
A gente não quer só SBPC: a gente quer SBPC,
inovação e expansão com qualidade. “A gente quer inteiro e não pela metade”.
Manifesto do Coletivo Contraponto-MA à Comunidade
Acadêmica.